Sinopse:
O japonês-brasileiro Mario (Teah) e a cabeleireira chinêsa Kei (Michele Reis) são amantes. Kei está perto de ser deportada. O plano dele então é conseguir passaportes para fugirem clandestinos em um navio rumo a um país estrangeiro. Junto de sua namorada, Mario tenta roubar dinheiro da máfia, só que ao invés disso ele obtém cocaína, que depois vende. Mas Kei é capturada pela Yakuza e ele terá de salva-la.
Dados do Filme:
http://www.imdb.com/title/tt0246498/
Título Original: Hyôryû-gai/ The City of Last Souls
Gênero: Ação/Drama/Fantasia
Lançamento: 2000
País de Origem: Japão
Duração: 103 Min
Direção: Takashi Miike
Elenco:
Teah ... Mario
Michelle Reis ... Kei
Patricia Manterola ... Lucia
Mitsuhiro Oikawa ... Ko
Koji Kikkawa ... Fushimi
Ren Osugi
Akaji Maro
Anatoli Krasnov ... Khodoloskii
Sebastian DeVicente ... Rikardo
Terence Yin ... Riku
Atsushi Okuno ... Carlos
Akira Emoto ... Kuwata
Eugene Nomura ... Yamazaki
Marcio Rosario ... Sanchez
Crítica:
Elogio da mestiçagem
Em cada imagem que nos vem à mente logo após a projeção do filme, a cada plano ou seqüência que relembramos de A Cidade das Almas Perdidas, conseguimos restituir acima de tudo um esquisito sentimento de esquizofrenia. Imagens perdidas num caleidoscópio, giradas, confusas e entretanto belas, de uma composição nada equilibrada, feita ao invés para desafiar todo equilíbrio, para fazer um cinema vertiginoso. Nem obra "de arte", nem de exploração comercial – embora se deva supor algum sucesso de público para este filme –, nem um estudo sobre a condição humana, nem um idiota conflito do bem contra o mal, A Cidade das Almas Perdidas vai confundir mais de um, vai desagradar a quase todos, e ainda assim sente-se a necessidade de dizer: trata-se de um belo filme. De um filme muito irregular, que não vai em momento algum até o fim das histórias que propõe, que as junta todas dando um ritmo muito esquisito a cada momento, mas que entretanto segue muito bem as lições de um outro mestre japonês que soube muito bem fazer produções alucinadas com perfil comercial: Seijun Suzuki (A Marca do Assassino, Elegia da Briga).
Takashi Miike vai, com sua estética, à raiz do problema: seu desejo não é construir um filme para cativar a audiência, criar climas, acentuar sutilezas... seu cinema caminha por um outro percurso, um cheio de curvas, derrapagens e eventuais mergulhos no nada. Ele faz um cinema onde os gêneros se misturam, onde a velocidade da narrativa não nos dá tempo de nos emocionar com o sofrimento dos personagens ou apreciar alguns dos mais belos planos dos últimos anos, mas em compensação ele nos oferece uma viagem de montanha-russa que nos deixa ofegantes. É certo que o cinema "de autor" hoje dá mais atenção à melodia do que ao ritmo. Só alguns poucos – Tsui Hark, Straub, Oliveira, Cronenberg – sabem nos propor jogos de velocidade e ralentamento. A esses acresce Takashi Miike. Pois o trabalho que Miike realiza com os gêneros – e com os diferentes modelos de audiovisual: videogame, computação gráfica, desenho animado – só pode ser entendido se for compreendido à luz do ritmo.
Num ônibus-prisão, destinado a retirar os clandestinos do Japão, está Michelle Reis, que interpreta uma cabelereira chinesa. Perseguindo o ônibus num helicóptero está Teah, um brasileiro descendente de japoneses, que metralha o ônibus para resgatar sua amada. Filmado como cinema de ação, com uma música rápida de guitarras furiosas, a cena precede uma outra em que o casal foge, pula do helicóptero de uma distância absurda e sai ileso: quebra do mecanismo de ilusão do cinema, que nos remete aos corpos eternamente incólumes dos personagens de desenho animado. Encaminhando-se para o bairro brasileiro – mais especificamente para um botequim chamado "Barquinho" –, eles encontram um malandro carioca (interpretado por Marcio Rosário), que irá ameaçar o casal com uma faca. A Cidade das Almas Perdidas caminha rapidamente do filme de ação para a comédia e depois para a intriga romântica, passando pelo drama, pelo filme espírita, filme de yakuza, cinema de arte, desrespeitando absolutamente todos. É um filme de mestiçagem, que se resolve pela confusão de gêneros no nível da narrativa e pelas diferentes raízes culturais no plano da história a ser contada.
Teah é um japonês mulato, Michelle Reis uma miss chinesa. Há também uma prostituta santa, uma Maria Madalena gostosíssima que protege uma menina que perdeu os olhos e é uma espécie de curandeira, o fulgor da inocência dentro do filme, que se passa todo no bas-fond, no beco da perdição (daí o título do filme). Juntos, todos aqueles que freqüentam o "Barquinho" são de alguma forma uma sociedade de párias, que se aceitam mutuamente justamente por não terem lugar nenhum. Uma comunidade multi-racial, como nos clássicos filmes de John Carpenter. Juntos, eles tentarão conseguir o dinheiro para tirar o casal apaixonado do Japão, uma vez que eles fogem não só da polícia, como também de um poderoso e andrógino traficante chinês com influência internacional, que quer Michelle Reis só para si.
A Cidade das Almas Perdidas é um filme sobre mestiçagem até no estatuto das imagens. Se o começo nos faz lembrar um filme americano seguido de um desenho animado, logo depois veremos uma rinha de galos feita completamente em imagens de síntese – e obrigatoriamente tosca – que inicialmente parece um jogo de playstation. À medida que uma confusão estoura no local, os galos incandescentes pulam em cima da platéia da rinha em cenas hilárias e absolutamente impuras, que tiram sua graça justamente desse efeito de mestiçagem causado pela falta de verossimilhança. Mas não é de se supor que esse filme – como a obra de Miike – possa cair na designação de cinema trash. Não mesmo. É um cinema da experimentação, da inventividade e da exploração – há liberdades narrativas "poéticas" realizadas em cenas de violência que parecem um pouco exageradas. Há nele até mesmo um plano digno de antologia, quando a menina cega caminha, as costas para a tela, em direção a sua protetora, e um espelho no lado direito do plano é a única coisa que nos permite saber que ela lhe toca levemente o rosto – estando de costas, seu corpo tampa tanto seu braço quanto o rosto da mulher.
Mesmo que haja imagens de exploração da violência, A Cidade das Almas Perdidas não se pode considerar de forma alguma como incensando a violência, ou dando a ela o estatuto de glamour. Muito menos trata-se do pior tipo de aceitação da violência, quando ela é submetida ao personagem malvado por um homem de bem (e que domina todo o cinema americano de ação). O filme não julga moralmente os personagens, não justifica violência nenhuma, só tira proveito estético dela, numa atitude de pseudo-inocência que não é tranqüila para todos, mas que é mais do que comum em qualquer jogo de videogame há mais de 12 anos. A Cidade das Almas Perdidas termina com uma estranha deliberação, espécie de mensagem divina recebida pela menina santa, que para dar um fim à matança toma uma decisão que quebra com todas as leis do gênero do cinema de ação (para o bem do leitor, não diremos qual é). Menos uma obra perfeita, talhada como diamante, do que uma excelente experiência, exuberante pedra bruta, esse filme de Takashi Miike vai permanecer como um dos poucos momentos dos últimos anos em que o cinema ousou propor um jogo de ritmo ao espectador. Um filme stravinskiano, wellesiano, mas acima de tudo um cinema urgente, esbaforido, atônito.
Ruy Gardnier
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Idioma do Áudio: Inglês / Mandarin / Russo / Japonês / Português / Cantonês
Legendas: PT/BR
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Senha para descompactar:
O japonês-brasileiro Mario (Teah) e a cabeleireira chinêsa Kei (Michele Reis) são amantes. Kei está perto de ser deportada. O plano dele então é conseguir passaportes para fugirem clandestinos em um navio rumo a um país estrangeiro. Junto de sua namorada, Mario tenta roubar dinheiro da máfia, só que ao invés disso ele obtém cocaína, que depois vende. Mas Kei é capturada pela Yakuza e ele terá de salva-la.
Dados do Filme:
http://www.imdb.com/title/tt0246498/
Título Original: Hyôryû-gai/ The City of Last Souls
Gênero: Ação/Drama/Fantasia
Lançamento: 2000
País de Origem: Japão
Duração: 103 Min
Direção: Takashi Miike
Elenco:
Teah ... Mario
Michelle Reis ... Kei
Patricia Manterola ... Lucia
Mitsuhiro Oikawa ... Ko
Koji Kikkawa ... Fushimi
Ren Osugi
Akaji Maro
Anatoli Krasnov ... Khodoloskii
Sebastian DeVicente ... Rikardo
Terence Yin ... Riku
Atsushi Okuno ... Carlos
Akira Emoto ... Kuwata
Eugene Nomura ... Yamazaki
Marcio Rosario ... Sanchez
Crítica:
Elogio da mestiçagem
Em cada imagem que nos vem à mente logo após a projeção do filme, a cada plano ou seqüência que relembramos de A Cidade das Almas Perdidas, conseguimos restituir acima de tudo um esquisito sentimento de esquizofrenia. Imagens perdidas num caleidoscópio, giradas, confusas e entretanto belas, de uma composição nada equilibrada, feita ao invés para desafiar todo equilíbrio, para fazer um cinema vertiginoso. Nem obra "de arte", nem de exploração comercial – embora se deva supor algum sucesso de público para este filme –, nem um estudo sobre a condição humana, nem um idiota conflito do bem contra o mal, A Cidade das Almas Perdidas vai confundir mais de um, vai desagradar a quase todos, e ainda assim sente-se a necessidade de dizer: trata-se de um belo filme. De um filme muito irregular, que não vai em momento algum até o fim das histórias que propõe, que as junta todas dando um ritmo muito esquisito a cada momento, mas que entretanto segue muito bem as lições de um outro mestre japonês que soube muito bem fazer produções alucinadas com perfil comercial: Seijun Suzuki (A Marca do Assassino, Elegia da Briga).
Takashi Miike vai, com sua estética, à raiz do problema: seu desejo não é construir um filme para cativar a audiência, criar climas, acentuar sutilezas... seu cinema caminha por um outro percurso, um cheio de curvas, derrapagens e eventuais mergulhos no nada. Ele faz um cinema onde os gêneros se misturam, onde a velocidade da narrativa não nos dá tempo de nos emocionar com o sofrimento dos personagens ou apreciar alguns dos mais belos planos dos últimos anos, mas em compensação ele nos oferece uma viagem de montanha-russa que nos deixa ofegantes. É certo que o cinema "de autor" hoje dá mais atenção à melodia do que ao ritmo. Só alguns poucos – Tsui Hark, Straub, Oliveira, Cronenberg – sabem nos propor jogos de velocidade e ralentamento. A esses acresce Takashi Miike. Pois o trabalho que Miike realiza com os gêneros – e com os diferentes modelos de audiovisual: videogame, computação gráfica, desenho animado – só pode ser entendido se for compreendido à luz do ritmo.
Num ônibus-prisão, destinado a retirar os clandestinos do Japão, está Michelle Reis, que interpreta uma cabelereira chinesa. Perseguindo o ônibus num helicóptero está Teah, um brasileiro descendente de japoneses, que metralha o ônibus para resgatar sua amada. Filmado como cinema de ação, com uma música rápida de guitarras furiosas, a cena precede uma outra em que o casal foge, pula do helicóptero de uma distância absurda e sai ileso: quebra do mecanismo de ilusão do cinema, que nos remete aos corpos eternamente incólumes dos personagens de desenho animado. Encaminhando-se para o bairro brasileiro – mais especificamente para um botequim chamado "Barquinho" –, eles encontram um malandro carioca (interpretado por Marcio Rosário), que irá ameaçar o casal com uma faca. A Cidade das Almas Perdidas caminha rapidamente do filme de ação para a comédia e depois para a intriga romântica, passando pelo drama, pelo filme espírita, filme de yakuza, cinema de arte, desrespeitando absolutamente todos. É um filme de mestiçagem, que se resolve pela confusão de gêneros no nível da narrativa e pelas diferentes raízes culturais no plano da história a ser contada.
Teah é um japonês mulato, Michelle Reis uma miss chinesa. Há também uma prostituta santa, uma Maria Madalena gostosíssima que protege uma menina que perdeu os olhos e é uma espécie de curandeira, o fulgor da inocência dentro do filme, que se passa todo no bas-fond, no beco da perdição (daí o título do filme). Juntos, todos aqueles que freqüentam o "Barquinho" são de alguma forma uma sociedade de párias, que se aceitam mutuamente justamente por não terem lugar nenhum. Uma comunidade multi-racial, como nos clássicos filmes de John Carpenter. Juntos, eles tentarão conseguir o dinheiro para tirar o casal apaixonado do Japão, uma vez que eles fogem não só da polícia, como também de um poderoso e andrógino traficante chinês com influência internacional, que quer Michelle Reis só para si.
A Cidade das Almas Perdidas é um filme sobre mestiçagem até no estatuto das imagens. Se o começo nos faz lembrar um filme americano seguido de um desenho animado, logo depois veremos uma rinha de galos feita completamente em imagens de síntese – e obrigatoriamente tosca – que inicialmente parece um jogo de playstation. À medida que uma confusão estoura no local, os galos incandescentes pulam em cima da platéia da rinha em cenas hilárias e absolutamente impuras, que tiram sua graça justamente desse efeito de mestiçagem causado pela falta de verossimilhança. Mas não é de se supor que esse filme – como a obra de Miike – possa cair na designação de cinema trash. Não mesmo. É um cinema da experimentação, da inventividade e da exploração – há liberdades narrativas "poéticas" realizadas em cenas de violência que parecem um pouco exageradas. Há nele até mesmo um plano digno de antologia, quando a menina cega caminha, as costas para a tela, em direção a sua protetora, e um espelho no lado direito do plano é a única coisa que nos permite saber que ela lhe toca levemente o rosto – estando de costas, seu corpo tampa tanto seu braço quanto o rosto da mulher.
Mesmo que haja imagens de exploração da violência, A Cidade das Almas Perdidas não se pode considerar de forma alguma como incensando a violência, ou dando a ela o estatuto de glamour. Muito menos trata-se do pior tipo de aceitação da violência, quando ela é submetida ao personagem malvado por um homem de bem (e que domina todo o cinema americano de ação). O filme não julga moralmente os personagens, não justifica violência nenhuma, só tira proveito estético dela, numa atitude de pseudo-inocência que não é tranqüila para todos, mas que é mais do que comum em qualquer jogo de videogame há mais de 12 anos. A Cidade das Almas Perdidas termina com uma estranha deliberação, espécie de mensagem divina recebida pela menina santa, que para dar um fim à matança toma uma decisão que quebra com todas as leis do gênero do cinema de ação (para o bem do leitor, não diremos qual é). Menos uma obra perfeita, talhada como diamante, do que uma excelente experiência, exuberante pedra bruta, esse filme de Takashi Miike vai permanecer como um dos poucos momentos dos últimos anos em que o cinema ousou propor um jogo de ritmo ao espectador. Um filme stravinskiano, wellesiano, mas acima de tudo um cinema urgente, esbaforido, atônito.
Ruy Gardnier
Dados do Arquivo:
Idioma do Áudio: Inglês / Mandarin / Russo / Japonês / Português / Cantonês
Legendas: PT/BR
Tamanho: 363 Mb
Formato: Rmvb
Servidor: Rapidshare
Partes: 4
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