Negro Coração

“Deine worte gleiten in den Morgen In einem zarten rosa schleier Der sich über der Natur erhebt Verblassen sie und schweigen stille Nur die sehnsucht meiner stimme Im flehenden Gebet Entsinnt sich Deiner Worte Die Du in mich gelegt So verstummt auch meine Hoffnung Und die Stille entfacht den Krieg”.[1]
Am Ende Der Stille
Lacrimosa

David chega cansado em seu pequeno apartamento, depois de um dia inteiro de aula na faculdade, um dia tedioso e cheio de gente pútrida e selvagens na realidade, mas que se escondem por trás de máscaras, se comportando como senhores da moral, dóceis, frágeis e altamente generosos.
Ciências contábeis, ele pensa, que merda, se meu pai não fizesse tanta questão disso, aqueles professores... meus colegas fúteis.... por mim eles sumiriam da face da terra, suas caras de felicidade, seus sorrisos estúpidos, nada mais me exaspera do que estas coisas, estas falsas convenções sociais.
Ele vai até a janela do seu apartamento que fica em frente a sua faculdade, e na rua vê várias pessoas paradas ali conversando, um grupo de amigos escorados numa caminhonete rindo, jogando papo pro ar e bebendo umas cervejas; um casal de namorados; e um senhor e sua filha, apenas sentados num banco esperando o ônibus passar.
Mas tudo isso, enoja David, seu coração começa a palpitar de raiva e inveja, ele sente-se só, único ser num mundo no qual não precisa de contatos, apenas uma existência solitária, vazia e sem sentido, no qual seu único dever, sua única vontade é a aniquilar tudo.
Ele lembra do rifle que achou na fazenda do pai e que mantém encima do guarda-roupa; ele sai da janela e vai pegá-lo, suas mãos alcançam o rifle e uma caixa de cartuchos. Volta para janela. Finalmente os malditos irão pagar, a existência deles é uma ofensa.
Pára em sua janela, apóia o rifle no parapeito, olha para o grupo de amigos, o casal de namorados, os pais e sua filha. De repente... bam... A garotinha cai aos pés do pai, que sem saber nada do que está acontecendo fica estupefato por um instante e quando percebe o que está acontecendo, seus miolos estouram na parede atrás da parada de ônibus.
David começa a tremer de felicidade, ele estranhamente sente tesão e seu pênis fica ereto nas suas calças, o prazer é algo extremamente doentio, ele sabe disso, mas ele gosta.
Bam... Um dos rapazes que estava bebendo cerveja, o tiro trespassa-lhe a cabeça e explode a garrafa longneck que estava sendo levado em direção a sua boca, nisto todos percebem o que está acontecendo, começa a correria e a gritaria. Os gritos são audíveis onde David está, “meu deus tem um franco atirador por perto, socorro”, ouvem-se choros e lamentos, mas mesmo que alguns fujam, a natureza humana é curiosa, e se aglomeram para ver os mortos, e bam, uma senhora com uma sacola de compras cai morta no meio da rua com uma bala atravessada no seu pescoço.
Ouvem-se batidas na porta de David, e gritos. “Abra a porta, agora senão vamos invadir”, - bam, - mais um tiro atravessa o casal de namorados que estavam um tentando proteger o outro com seu próprio corpo.
Crash...
A porta de David é arrombada, e o que os policias vêem, não é mais um ser humano e sim o que sobrou dele, seus olhos e seu sorriso escancarado não são os de um lunático, mas algo mais, é um sorriso macabro de provocar calafrios na espinha e em seus olhos um vazio, mas não a falta de algo como o vazio branco e sim um vazio negro.
[1] “Suas palavras deslizam pela manhã / Num macio véu rosa / Flutuando pela terra / Para empalidecer e desaparecer em silêncio / Somente o desejo de sua voz / Numa prece de súplica / Lembram as palavras que / um dia você disse pra mim tão carinhosamente / Desse modo minha esperança também desvanece / e no silêncio desumano a guerra”.
No Fim do Silêncio