Caça ou Caçador

“Toda grandeza mortal é apenas doença”.
Herman Melville

“O que viu era tão terrível, que transformava em doces sonhos o que imaginava de pior sobre a aparência da coisa na adega. O que viu destruiu sua lucidez em uma aterradora fração de segundo”.
It
Stephen King


A noite está fria, enquanto caminho posso sentir o soprar do vento açoitando meu rosto como um chicote. Nenhum movimento nas ruas, tudo parece estranho, vazio! A não ser pelo fato de uma sensação angustiante de estar sendo vigiado. Há tempos ninguém tem essa ousadia, para dizer a verdade, há séculos quem tem essa coragem ou é um tolo que não sabe quem sou ou é algum nojento caçador, mas invariavelmente eles acabam sendo o prato principal!
Não lembro muito bem quando eu nasci para a noite e morri para os poucos que ainda se preocupavam com a minha existência anterior quando eu era apenas um pai de família respeitado e um dos promissores comandantes das tropas de Alexandre, que agora nos livros de história é também chamado com o codinome: o grande. Na época, eu estava em uma missão diplomática em Atenas na Grécia. Foi lá que fui atacado, fui transformado! Meu algoz? Não conheci! Logo após ter se alimentado, deixou-me atirado nas vielas da cidade num estado intermediário entre a vida e a morte. Meu corpo foi encontrado pela manhã por alguns de meus soldados, nele tinha duas marcas estranhas de perfuração em meu pescoço.
Quando voltei a mim a sede que sentia era enorme, sabia que algo havia me modificado aquela noite, eu sentia e ouvia coisas que antes para mim como pessoa era impossível, meu corpo parecia frágil, mas na verdade estava mais forte do que nunca, minhas feições estavam belas, irresistíveis, minhas unhas pareciam feitas de vidro, meus dentes?... Meu Deus! Então é isso, fui transformado num ser da noite, num Nosferatu, num vampiro! Daí tudo me venho à mente em um turbilhão de pensamentos: o ataque, as duas marcas no pescoço, minha aversão à luz do sol que tenho tido desde que fui mordido, e a sede que eu sentia, agora tudo se encaixava.
Há 3000 anos atrás começou o reinado de um dos mais antigos vampiros que o mundo ainda tem conhecimento, o meu reinado! Chamo-me Fédon, atualmente sou o mais antigo e o mais poderoso da minha espécie, por alguns chamados de Caçador pela mania de caçar minhas presas, gosto de brincar com elas, dar um fio de esperança, e depois persegui-las num jogo de gato e rato. Além de alguns ladrões e criminosos que ninguém sentiria falta, mas minha predileção é pelos chamados caçadores de vampiros talvez também os mais antigos, talvez até mais do que eu, a ordem chamada de Vigilantes noturnos, responsáveis pela diminuição progressiva da minha gente, só que depois de minha ascensão também fui o responsável por uma grande diminuição de seguidores dessa ordem, acabei me tornando um grande inimigo e alvo número um deles e um herói entre meus iguais.
Agora posso vê-lo, é apenas um vigilante, pensei que eles tinham se extinguido, mas pelo jeito eles não desistem. Não consigo ver seu rosto, porque além de estar escuro, ele está de capuz! De repente sinto três pontadas de dor, algo queimando minha pele, três flechas de prata atravessaram-me, uma em cada ombro me prendendo numa parede e a outra venho encontrar um destino certeiro no meu peito. Como isso dói, clamo pelo fim, a dor é intensa, finalmente derrotado! Meu carrasco se aproxima com uma estaca na mão para dar-me seu golpe fatal. Ele pára e olha-me nos olhos, sinto um calafrio percorrer-me a espinha, noto que ele como eu também não é humano, é uma criatura sobrenatural, mas algo mais me causa desconforto, não sei bem o quê? Ele tira seu capuz aproxima-se de mim, o quê? Não pode, não é possível, ele morreu há séculos, mas como? Vou morrer nas mãos de meu próprio filho!