Ensaio Sobre A Cegueira

Direção: Fernando Meirelles.
Elenco/Vozes: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover, Gael García Bernal, Alice Braga, Sandra Oh, Yusuke Iseya, Yoshino Kimura.

Como bom amante da literatura, antecipei-me ao lançamento do filme e li esta grande obra de José Saramago. Como bom leitor de blogs, acompanhei entusiasmadamente o blog de Fernando Meirelles sobre a produção do filme. Depois disso foi uma longa contagem regressiva até o lançamento. Longa e dolorosa, pois as críticas iniciais do filme eram negativas e a recepção em Cannes não foi boa. E os comentários não eram mal intencionados, pareciam legítimas decepções com o que parecia ser “um filme razoável em que o diretor não se destaca, a história não convence e as atuações não são boas”. Chegaram a me convencer de que seria “mais um filme” ou ainda “um bom filme para os que adoram o livro”. Sorte a minha, fui enganado.

Ensaio Sobre a Cegueira é uma das mais fiéis e merecidas adaptações da literatura para o cinema. Poucas produções conseguiram capturar o espírito de uma obra tão bem. Até o ponto em que, mesmo em suas falhas (como o excesso de narrações mal aproveitadas de um importante personagem), consegue com perfeição simular a sensação de estar lendo e vivenciando a brilhante história. Sem querer entrar nos detalhes do livro, que é um dos mais fortes e impactantes no lado social, psicológico e humano que já li, não entendo como puderam desmerecer o trabalho cinematográfico realizado. Comecemos pela fotografia: esta é usada de forma extremamente eficiente, representando muito bem a sensação da cegueira branca e oferecendo detalhes preciosos para os mais atentos, como objetos que se confundem com o branco tão presente no plano de fundo; em seguida, a edição, Muito bem empregada e instigante, lembra em alguns momentos o estilo americano (corrido, perturbador, como em Ultimato Bourne), e em outros o bom e velho cinema europeu.

A direção merece um parágrafo a parte. Não existe nada de trivial e simples na direção de Meirelles. Está mais para uma condução refinada e primorosa. Talvez não seja tão marcante ou surpreendente como em Cidade de Deus, mas é mais presente até do que em Jardineiro Fiel, e um ponto de grande importância do filme. Em uma cena particular vemos o policial se aproximar do ladrão através de um reflexo, e acompanhamos simultaneamente o desenrolar da cena. Em outra nos assustamos com uma mesa que não é exibida até o momento certo, em um belíssimo trabalho de direção e montagem. E o final, bem, o final. Qualquer pessoa que tenha lido o livro ficará sem fôlego e sem palavras quando presenciar o final do filme.

Por fim as atuações. Não se deixem enganar por qualquer desprestígio quanto ao trabalho do elenco. Julianne está mais uma vez maravilhosa, uma das grandes atrizes do nosso tempo. Danny Glover e Mark Ruffalo não desapontam. Alice Braga é a grande surpresa, com uma atuação forte e madura. E Gael García está mais uma vez excelente.

Não se deixem enganar como eu e assistam ao filme sem medo, principalmente se já leram o livro. Se não leram, tentem não se incomodar com detalhes que foram muito criticados mas são fiéis e justificáveis, como a ausência de nomes dos personagens, a localização incerta das cenas, entre outras minúcias que são importantes para o livro e para o filme, não podendo ser de outra forma.