Ano: 2006Diretor: Shukou Murase
Estúdio: Manglobe Inc.
País: Japão
Episódios: 23
Duração: 23 min
Gênero:Aventura / Drama / Sci-Fi
Manglobe. Guardem bem este nome, pois ele certamente começará a ser citado com cada vez mais freqüência entre os grandes estúdios de animação japoneses. Por sinal, os estúdios famosos como Madhouse, Gonzo e Bones podem colocar as barbas de môlho, porque o Manglobe, com apenas duas obras no currículo, já mostrou que não veio para brincar. É verdade que o Manglobe já começou grande, com um capital de giro considerável e contando com dois experientes profissionais em seu comando, Shinichiro Kobayashi e Takashi Kochiyama, ambos egressos da tradicional e poderosa Sunrise.Samurai Champloo, sua primeira obra, contou com a presença de ninguém menos que Shinichiro Watanabe (Cowboy Bebop) na direção, e a qualidade e ousadia presentes em todos os aspectos desta série impressionaram aos anime-maníacos. Com isto, a curiosidade para ver como seria a obra seguinte do Manglobe aumentava a cada dia, e os profissionais do estúdio teriam que suar para criar algo que não fizesse feio frente ao sensacional Samurai Champloo.Valeu a espera. Ergo Proxy é um anime de altíssimo nível, com uma temática ambiciosa e complexa apresentada de forma adulta sem ser exageradamente cerebral. Mas não se poderia esperar algo diferente de uma equipe classe A como esta, a começar pelo diretor Shukou Murase, famoso pelos excelentes desenhos de personagens em obras como Gundam Wing e Gasaraki, mas que mostrou ser também um diretor de mão cheia em sua obra de estréia nesta função, Witch Hunter Robin. Por sinal, Ergo Proxy possui o mesmo estilo sombrio e angular de WHR, e é provável que outras obras futuramente dirigidas por Murase sigam a mesma linha, o que seria algo muito bem-vindo. Com outros feras como o compositor Yoshihiko Ike (KARAS, Dead Leaves), o desenhista de personagens Naoyuki Onda (Ai no Kusabi, Gantz) e o diretor de arte Takashi Aoi (Najica), pelo menos na parte técnica o sucesso estaria garantido.Mas técnica não é tudo sem o auxílio de uma grande história, e aqui merece destaque o fantástico trabalho de Dai Sato (Samurai Champloo, Wolf's Rain) e sua equipe, que criaram um roteiro complexo e cativante, no qual referências filosóficas e psicológicas são utilizadas a todo momento sem que a narrativa perca o ritmo ou se torne maçante.Numa arrepiante seqüência inicial, uma entidade semelhante a um 
É complicado não falar demais sobre o enredo de uma obra tão intrigante mas, para fazer o barco andar, basta dizer que Real vê uma mensagem em seu banheiro, "Despertar", e logo depois é atacada por um monstro gigantesco, assustador, que arrebenta o teto de sua casa e chora ao vê-la. O surgimento de outra entidade igualmente impressionante, o embate entre ambas, tudo isto causa tamanha choque em Real que ela acaba perdendo a consciência. Teria sido verdade tudo aquilo que ocorreu, ou a mente de Real estaria criando coisas que, na verdade, nunca aconteceram? E o que seria, afinal, a verdade neste ambiente tão cheios de desinformações e dissimulações como o existente em Romdeau?Não dá para falar de Ergo Proxy sem comentar sobre as músicas, desde o excelente tema de abertura "Kiri" (Monoral), passando pela ótima trilha sonora ambiental eletrônica e repleta de ruídos até chegar em uma das músicas mais fodásticas já escritas pelo Radiohead, "Paranoid Android". Só a presença desta música já é um problema para que eu seja o mais isento possível na hora de analisar Ergo Proxy, mas sou um cara experiente, sensato e sei que vou conseguir... será?Tecnicamente o Manglobe é irrepreensível. Apesar de alguns cenários serem, às vezes, escuros em demasia, o que dificulta a visualização do que ocorre nas cenas, no geral o trabalho é de encher os olhos, com uma animação que chega a doer de tão fluida e um ambiente sombrio, gélido e de desolação. Mesmo a falsa beleza artificial de Romdeau deixa transparecer um quê de tristeza e melancolia, como se fosse apenas uma pálida lembrança da verdadeira beleza natural existente anos antes. O desenho de personagens é um show à parte, com personagens muito expressivos, especialmente Real Mayer, cada um bem diferente do outro e com características físicas que combinam muito bem com a psicologia de cada um. Merece destaque a criatividade e estilo usados no visual dos Proxys, os tais monstros, cujos detalhes são basicamente feitos à base de contrastes entre tons claros e escuros, luzes e sombras. E, assim como o Bones fez em Kurau - Phantom Memory, a equipe de arte do Manglobe criou uma idéia de futuro muito interessante, no qual é nítida a evolução tecnológica de Romdeau sem que, com isto, pareça algo extremamente distante de nossa realidade atual. Vale lembrar que Ergo Proxy, assim como Texhnolyze, possui algumas cenas muito violentas, e talvez algumas pessoas mais sensíveis a este tipo de coisa possam se impressionar um pouco.Os personagens são todos muito bons. Real Mayer veste desde cedo a máscara de uma pessoa durona e insensível mas, inconscientemente, bem lá no fundo, existe um quê de bondade e alegria prestes a despertar, como os autoraves. E é sempre bom vermos uma série com uma personagem feminina tão forte. Vincent Law começa como alguém moleirão e chato, parecendo até um projeto de Shinji Ikari, mas logo sua complexa personalidade (e põe complexa nisto) começa a dar as caras, e é impossível não se fascinar com o desenrolar de sua história. Temos ainda Pino, uma autorave infectada pelo Cogito que sempre se veste de coelho e se comporta com uma perfeita menininha, ainda que certas dúvidas e atitudes que tem mostram claramente a sua natureza cibernética. E, no campo dos autoraves, não dá para deixar de mencionar o auxiliar de Real, Iggy, um cara tão gente boa e cuja dedicação à garota é tão marcante que chega a nos emocionar para valer. Confesso que o personagem Raul Creed, Diretor-Geral de Romdeau e subordinado ao Entourage (grupo de sábios), não me convenceu muito, e suas motivações pareceram levemente forçadas e, até certo ponto, implausíveis. E temos ainda Daedalus Yumeno, jovem médico que é um verdadeiro prodígio na área da genética e que nutre por Real, desde a infância, um amor não correspondido. Mas é a história o grande trunfo de Ergo Proxy. Sem abusar do falatório tão comum a tantas séries que utilizam informações filosóficas em seu enredo e, claro, sem diluir o conteúdo de modo a tornar tudo mais palatável ao grande público, Ergo Proxy consegue levantar questões interessantes e manter a narrativa como um todo ainda muito interessante. A necessidade de se ter uma "raison d'être", ou razão de ser, e de ser reconhecido por outras pessoas para que sua existência seja legitimada. O que seriam as memórias e lembranças? O despertar da consciência? E toda a questão do "penso, logo existo" que, aqui, toma um rumo semelhante ao utilizado em Ghost in the Shell... até que ponto a consciência das máquinas deve ser considerada como algo à parte, quando comparadas aos humanos, especialmente numa sociedade em que ambos são praticamente produzidos da mesma forma, em série? A questão da clonagem é tratada com muita propriedade nesta série que, apesar de alguns momentos "monstro do dia", mantém o tom sério e a temática complexa inalterados quase ao longo de toda a narrativa.É uma pena que os três episódios finais tenham ficado tão corridos e sem nexo em algumas partes, como se a equipe de produção tivesse que suar a camisa para condensar informações de 6 ou mais episódios em apenas 3. O resultado final não ficou ruim, mas daria para ter terminado tudo de forma mais tranqüila e coerente. E não sei quanto aos demais fãs das série mas o episódio do Quiz, apesar de engraçado, ficou muito despropositado no meio do anime. O episódio 19, por exemplo, que critica a Disney de forma nada sutil, abusa do humor mas não pareceu deslocado do conjunto da série, ao contrário deste episódio do Quiz.
Informações Retiradas do site AnimeHaus.