CASSHERN - 2004

Formato: rmvb
Áudio: Japonês
Legendas: Português (BR)
Duração: 2:21
Tamanho: 515 MB
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Servidor: Rapidshare

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Texto de Bernardo Krivochein:
http://www.zetafilmes.com.br/criticas/casshern.asp?pag=casshern


Assistir "Casshern" é como ter assistido "Star Wars" na época de seu lançamento. Na realidade, "Casshern" é tudo o que George Lucas gostaria de estar realizando na visita à sua "sextologia" e não consegue. Me perdoem, mas ainda estou recuperando o fôlego...

Fui assistir "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei" no dia do lançamento, junto com todos os aficionados, alguns até conhecidos. Na saída orgástica do cinema (porque as pessoas não andavam para fora do cinema; as portas abriam e elas "escorriam", com o mesmo sorriso bobo de mulher que acabou de, literalmente, se dar bem, só faltando o cigarro a rigeur), era muito engraçado ouvir como teve gente que chorou ao ver Minas Tirith representada na tela.


Pois bem, "Casshern" não é trilogia, não acaba em aberto, mas é um épico como nunca se viu antes. Há muitas razões para o público em geral se satisfazer com "Casshern": é uma aventura futurística grandiosa, visualmente deslumbrante, conta com cenas de ação inesquecíveis, trata-se de um marco tecnológico (e um dos maiores expoentes do cinema digital), é um libelo contra a guerra, a intolerância e a violência - e por isso atemporal.

Mas se você cresceu na época da febre Jaspion/Chageman (sempre os achei mais carismáticos e envolventes do que qualquer X-Men, mas aí isso é uma coisa particular e anti-americana), quando ter uma camiseta da Ocean Pacific era um must ou se comia desesperadamente Lanche Mirabel com se soubéssemos que um dia não haveria mais, e sempre quis ver um filme desses ou com qualquer outro superherói que tinha a capacidade de tomar uma forma cibernética, meu amigo, pode ir se preparando para se engasgarPois, no final das contas, "Casshern" é como a versão de One Hundred Fuckin' Million Dollars do Jaspion, mas com ambições "Lawrence da Arábia"nescas e uma enorme carga emocional.


E eu chorei, meu Deus, como eu chorei, chorei mesmo, como se não tivesse amanhã. Você precisa entrar no mindset da coisa toda: pense naquele desenho japonês que, quando um personagem dá um daqueles saltos em direção à Júpiter, virando apenas uma estrelinha no céu, sempre vem um barulhinho agudo acompanhando, tipo: "schuííííínnn...."? ISSO TEM EM "CASSHERN"! Sabe no final de cada episódio de Changeman, Flashman, Spectroman etc., quando sempre havia uma ameaça gigante destruindo a cidade? ISSO TEM EM "CASSHERN" TAMBÉM!Peraí, fôlego... preciso... tomar... fôlego...



Mas eu não quero vender o filme errado para você. A ação, embora esputaforicamerdamente espetacular (preciso falar dos robôs! PRECISO FALAR DA CENA DOS ROBÔS!), está em segundo plano. "Casshern" não é um filme de ação, trate logo de se fazer um favor e esqueça o trailer (magnífico, embora equivocado - o próprio diretor fez questão de assinalar isso em entrevistas).

O filme medita sua violência, quando não acaba virando o rosto para as cenas de batalha. Eu me surpreendi o quanto de coração existe em "Casshern", que, em seu núcleo, é a história de uma família partida pela guerra e pelo conflito de gerações. E para nos contá-la, vai misturar religião, política, filosofia, ética, ciência e espiritualidade no mesmo balaio de gato, sempre de maneira relevante, nunca de forma gratuita e nunca se perdendo, para acabar criando sua própria mitologia.

Estamos num futuro em que o mundo se encontra dividido entre a República da Ásia e a União Européia, que guerreiam pela supremacia do continente. A família Azuma entra em seu próprio conflito, quando o pai, o professor Azuma (Akira Terao) - um cientista que busca patrocínio para a pesquisa de "neo-células" (uma alusão à pesquisa de células-tronco), visando a recuperação de sua esposa (Kanako Higuchi) - e o filho, Tetsuya (Yusuke Iseyda), recém noivo de Luna (Kumiko Aso), passam a se estranhar. Tetsuya repreende a obsessão profissional do pai achando que ele deveria estar ao lado da mãe; o Prof. Azuma repreende o filho por ter se alistado no exército para lutar na guerra. Como os dois não conseguem fazer a cabeça do outro, eles se separam pelos seus próprios interesses. A guerra acaba, a pesquisa ainda não deu frutos e Tetsuya...


Não vou entrar em detalhes, porque, confesso, não sabia de picas da história e o fim da guerra rende uma seqüência brilhante em que Tetsuya e a mãe, depois de muito tempo, se reencontram. É um belíssimo e surpreendente momento que nos mostra porque japonês é tão bom nessa história de fazer terror.

Uma série de eventos misteriosos passam a subseguir-se, culminando com um misterioso relâmpago que, solidificado, "abençoa" o experimento do Prof. Azuma com a vida. Eu sei que a sentença não fez o menor sentido, mas confie em mim, eu preciso dela para continuar. Logo, uma geração de novos humanos ganha vida e imediatamente é caçada pelo governo. Os sobreviventes se autodenominarão "Neo-humanos" e declararão guerra aos seus opressores - os humanos. Caberá a um novo herói salvar a humanidade. E este herói habita dentro de Tetsuya...

Ao que parece, 2004 foi um ano crucial para a reinvenção do cinema com tal tecnologia. Existe uma competição por qual filme foi pioneiro na técnica de ser realizado estritamente num "galpão digital" (ou seja, filmado com atores reais, mas com cenários criados em computador): a insatisfatória, porém intrigante ficção mitológica francesa "Immortel (ad vitam)", o delicioso filme-à-moda-dos-seriados-cinematográficos-do-Roxy-que-seu-pai-falsificava-a-carteirinha-do-colégio-para-poder-ver "Capitão Sky e o Mundo do Amanhã" e este. Uma coisa é certa: nenhum dos dois trabalha sua fotografia como "Casshern". Enquanto "Immortel" é um tanto direto visualmente (é bonito pacas, não me entendam mal...) e "Capitão Sky..." é monocromático (este é o contexto dele), em "Casshern", as cores são todas estouradas que chegam a doer no peito, não nos olhos. O filme estrutura a sua palheta, dando a cada cenário uma personalidade cromática: o centro urbano, repleto de poluição, é um laranja no máximo de sua intensidade, remetendo-nos ao calor do local; o jardim da família Azuma é um sonho, repleto de verde e cores calmas; o Setor 7, uma zona rebelde que não se curva à política forçada pelo governo, é cinza como um país da Europa Oriental no pós-guerra etc. Outro ponto de contato entre os três filmes é o approach às tecnologias imaginadas em cada um deles, em que o design retrô impera (relembrando: "Gattaca" tinha o mesmo approach do futuro). Tenho minhas dúvidas se as platéias comerciais atuais engolem essa estética (uma vez que, de uns tempos para trás, a concepção convencional do futuro é "clean" como um pesadelo da CasaCor), mas "Casshern" não quer transformá-la em sedutora e, sim, em decadente.

A primeira metade do filme nos mostra o estado dos laços familiares e como esse núcleo é separado pela guerra e pela morte. "Casshern" vai abusar dos fãs da narrativa direta a incorporar um elemento que só pode ser comparado ao monolito em "2001: uma odisséia no espaço": um relâmpago solidificado que dá vida aos neo-humanos (poderia ser Deus? poderia ser a tecnologia?). Assim como no filme citado, o mistério é deixado como tal, permitindo ao espectador tecer sua teoria particular. É aí que se encontra, talvez, o grande diferencial: ao trabalhar no campo das idéias, "Casshern" decepciona o espectador passivo, que não quer pensar, que PRECISA de uma história mastigada, que não admite a liberdade interpretativa que lhe é dada pelos criadores. O filme permite-se divagar, sair do caminho traçado ou simplesmente não andar de uma vez (em termos de argumento - o ritmo do filme não pára).

As cenas de ação são mantidas em número limitado (umas três ou quatro, sem contar o clímax), localizadas a partir da metade para o final, mas a pobreza quantitativa (e admita: explosão demais uma atrás da outra fica redundante, sem sentido e puramente chato) é mais do que compensada qualitativamente: em "Casshern" existem cenas que você nunca viu antes, a serem copiadas (e, por que não?, melhoradas) até a eternidade. Os combatentes usam e abusam de seus oponentes, fazem-nos de marimba, ioiô e o escambau a quatro. E a dimensão emocional que elas representam, como estão mais do que definidas pelo roteiro, as deixam exponencialmente mais impactantes - dá para falar horas sobre elas.

O filme tem direito a clímax megalômano padrão (que me relembrou um momento de "Steamboy"), mas, acredite, é no colapso sentimental, em foco durante toda a sessão, que você estará prestando atenção. Quando a porra toda fecha numa seqüência final transmitindo uma mensagem anti-bélica insuspeita até então é capaz que, sem querer, você se encontre chorando quando os créditos subirem. Eu disse para mim mesmo: "Puta que pariu, eu tô chorando! É um filme de ação! Não é para eu estar chorando!"

Mas eu estava. "Casshern" é sobre família. É contra a guerra. É como se fosse "Jaspion" com tecnologia de "Homem-Aranha". Eu não poderia ter sonhado com um filme melhor.